segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Jeitinho Brasileiro e a Modernidade

São duas realidades opostas, mas, no mesmo tempo convivem e caminham em conjunto. Pois, ambos estão presentes nos domínios urbanos e impessoal. O jeitinho nasce justamente do encontro da regra impessoal com a pessoalidade do sistema. (BARBOSA Lívia - O Jeitinho Brasileiro, Rio de Janeiro, 1992).

Alberto Guerreiro Ramos, em sua obra “Administração e estratégia de desenvolvimento” enfatizou que o surgimento do “jeitinho” está ligado às estruturas arcaicas e pré–industriais, as relações familiares e clânicas, fadado ao desaparecimento com a modernização. A realidade atual em que vivemos é uma mistura entre a modernidade marcada pelo desenvolvimento, crescimento científico e tecnológico e o jeitinho que se trata de forma estrita na sociedade.

Já o autor Roberto Campos em seu ensaio “A técnica e o riso” nos mostra que o “jeitinho” está ligado a três fatores principais. A origem histórica, a relação com a lei e a atitude religiosa.

O primeiro fator nos remete ao feudalismo que por ter sido um sistema rígido no que tange as relações entre servos e senhores, deu margem a utilização de “jeitinhos” para a sobrevivência. Como o feudalismo marcou presença por mais tempo nos países latino-americanos, estes herdaram o “jeitinho” com mais intensidade.

A questão das leis também nos mostra o porquê do “jeitinho” ser adotado com mais freqüência nas sociedades latino-americanas do que nas anglo-saxônicas. Nos primeiros a lei é baseada em um sistema apriorístico e formal de relações, enquanto na Inglaterra a constituição é normativa.

O terceiro ponto levantado por Campos é a questão religiosa. Nos países latinos a religião católica domina e a tradição desta se faz por um dogma rígido e intolerante, enquanto nos países onde a maioria é protestante as mudanças ocorrem na medida em que a situação exige, sem a morosidade da religião católica.

Roberto DaMatta, (O que faz o Brasil, Brasil) identifica o “jeitinho” de maneiras distintas, dentre elas destacam-se três:

• “jeitinho” como uma maneira de se resolver problemas que vão ao encontro de alguma norma, proibição ou lei;
• como uma dificuldade das pessoas de se verem como iguais perante as leis; e
• como um ato próximo à corrupção, revelando a malandragem social do brasileiro.

No caso de corrupção, Lívia Barbosa afirmou que veio da tradição portuguesa, que possui a tolerância com a corrupção, que era famosa na Europa desde século XVII, assim como foi a expressão que tornou conhecido o político Ademar de Barros (interventor e governador de São Paulo), “Rouba, mas faz”. Isso gera uma baixa expectativa de serviço público honesto.

Para DaMatta, o “jeitinho” é o resultado da distinção que existe na sociedade brasileira entre a noção de indivíduo e de pessoa. Para ele as duas noções operam simultaneamente, desde o processo de formação do Brasil, constante numa dialética que interfere incessantemente na operação do sistema social. É possível fazer funcionar o “jeitinho” porque o assunto começa sempre com alguém que conhece alguém que pode ajudar a resolver mais rapidamente e com menos complicações e burocracia uma situação dada.

Dessa forma, utilizar o “jeitinho” em determinadas situações consiste em uma alternativa para os brasileiros. As normas estabelecidas não representam um obstáculo visto que elas podem ser contornadas ou interpretadas de outra forma.

Considerações finais
No mundo moderno, neste século XXI, a prática do “jeitinho” não é uma característica psicológica do brasileiro e sim um subproduto do formalismo, porque é por meio desta característica que a organização desenvolve possibilidades de dar e negar, vetar e consentir. Sua prática é mais permissível e socialmente aceitável naquelas organizações em que o processo de burocratização ainda não consumou sua hegemonia.

O “jeitinho” não pode deixar de ser, portanto, um recurso de poder na medida em que distingue os que podem e os que devem, os que têm e os que não têm, enfim, as pessoas e os indivíduos, quando é necessário encontrar uma saída onde as regras não são favoráveis.

Por Willibrodus Paulus

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